Editorial

Misturas que embaralham o eleitor

Que as alianças políticas nem sempre levam em conta afinidades ideológicas ou programáticas, optando muitas vezes pelo simples pragmatismo eleitoral (ou eleitoreiro) e interesses marginais como espaços midiáticos e polpudos recursos de fundos, é sabido. Lamentavelmente, é praticamente uma cultura nas relações partidárias e de poder no Brasil. Contudo, há momentos em que, mesmo com esse pano de fundo, os encaminhamentos acabam por surpreender. É o caso da decisão tomada pelo comando do PT na última segunda-feira com relação a parcerias da sigla com vistas às eleições municipais do ano que vem.

Chutando para escanteio a lógica, a resolução partidária aprovada por maioria - ainda que apertada - permite que sejam estabelecidas alianças entre petistas e integrantes do PL com vistas aos cargos em disputa em 2024. O PL, como bem sabem todos os brasileiros que acompanham política minimamente, é o partido ao qual o principal oponente do PT, o ex-presidente Jair Bolsonaro, é filiado. Mais do que isso, é a sigla em que, se não a totalidade dos agentes políticos, certamente a maioria dos integrantes está ferrenhamente alinhada aos princípios bolsonaristas. Logo, o óbvio é que, mesmo com o aval petista, líderes e filiados do PL repudiem tal aproximação. Ao menos nos discursos oficiais.

Perante tal realidade indiscutível de completa dissonância entre ideias e práticas de ambas as agremiações, soa ainda mais incompreensível que o PT argumente que tal liberação de alianças possa ocorrer desde que "vedado apoio a candidatos e candidatas identificados com o projeto bolsonarista". No sentido oposto, seria como se o PL desse aval a parcerias com o PT, exceto se o filiado ao partido fosse alinhado a Lula.

Este é apenas mais um exemplo de como as relações entre siglas e grupos políticos acabam confundindo ainda mais a cabeça dos cidadãos comuns. Enquanto os eleitores buscam identificar entre seus representantes ou postulantes a tal suas posições e prioridades sobre temas que consideram fundamentais para suas vidas, o retorno que recebem torna tudo ainda mais indistinguível. No fim das contas, não é difícil compreender a razão de quem se diz confuso com a política nacional e acaba, não raro, desperdiçando seu voto ao anular ou não ir à urna.

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